quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Simulação de Julgamento

Meus Caros Estudantes

À segunda é que é. Aqui fica a nossa simulação de julgamento em Contencioso Administrativo. Espero que se divirtam e que, ao mesmo tempo, aprendam Processo Administrativo.

Vasco Pereira da Silva


CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO
SIMULAÇÃO DE JULGAMENTO


            Feliciano Yanaqué saía para o estrangeiro, pela primeira vez, aos cinquenta e cinco anos de idade, da cidade de Piura, no noroeste do Perú, acompanhado de sua mulher Gertrudis, a quem tinha prometido uma visita a Fátima. Ao chegar ao aeroporto de Lisboa, foi-lhe cobrada uma taxa de entrada no município, no montante de um euro. Ainda protestou, que seguia direito para  Fátima, num carro previamente fretado, não chegando sequer a entrar em Lisboa, mas ninguém fez caso disso, quem sabe se por culpa da dificuldade de compreensão do seu castelhano, carregado pelo sotaque da sua Yapatera natal. Ficou aborrecido, mas deixou andar.
            Após três dias de peregrinação em Fátima e de quinze dias de passeio turístico pelo centro e norte do país, era tempo de visitar finalmente Lisboa. Esteve cinco dias num hotel, num prédio antigo recuperado, que lhe fez lembrar terras peruanas e, ao pagar a conta, já prestes a voltar para casa, cobram-lhe cinco euros de taxa de alojamento. Agora, era de mais! Não era tanto pelos cinco euros, embora um homem como ele, que tinha feito a sua vida a pulso, não visse com bons olhos o dinheiro mal-gasto, mesmo se pouco. Era, sobretudo, por achar que estava a ser vítima de uma injustiça e, imediatamente, lhe vieram à mente as palavras de seu pai, antes de morrer: «Nunca te deixes pisar por ninguém, meu filho».
            Vai daí, decide procurar um advogado, encontrando, logo na esquina do hotel, o escritório do Dr. Lima e Pires (cujo nome lhe fazia lembrar a capital do seu querido Perú), a quem solicita que recorra à Justiça..O advogado Lima e Pires intenta uma ação, nos tribunais administrativos, impugnando os atos de cobrança das taxas de entrada e de alojamento no município de Lisboa, com o argumento de que se trata de impostos, lançados por uma entidade incompetente, assim como pretendendo obter a declaração de ilegalidade do orçamento camarário que criara tais tributos, para que «outros incautos turistas náo venham a ser pisados como ele» (segundo as despeitadas palavras de Feliciano). Constituem-se como assistentes neste processo, tanto a Associação dos Hoteis históricos de Lisboa, como a dos Restaurantes e Tascas Finas de Lisboa, que também estão contra a criação das “ditas” taxas, que consideram estar a matar “a galinha dos ovos de ouro” do turismo alfacinha.
            No processo, a autarquia lisboeta alega que o que está em causa é uma taxa turística, contrapartida das infra-estruturas oferecidas pela cidade, idêntica à existente noutras capitais europeias e de reduzido montante, cabendo assim tanto a sua criação pelo orçamento como a sua aplicação ao caso concreto dentro das atribuições do município.
            Quid iuris?

(N.B. Os personagens Feliciano e Gertrudis Yanaqué “fugiram” do livro de Mario Vargas Llosa, «O Herói Discreto», Quetzal, Lisboa, 2013  O caso prático é meramente académico, pelo que qualquer semelhança com factos e personagens da vida real é pura coincidência O presente texto constitui apenas uma hipótese de trabalho, destinado a delimitar as questões jurídicas objecto da simulação, podendo (devendo) os pormenores concretos do caso ser completados ou reconstruídos, na simulação de julgamento a realizar).. 

Sem comentários:

Enviar um comentário